domingo, 4 de agosto de 2013

O susto e a dor do amor: breve análise sobre a primeira vez

Nenhum susto é tão grande e tão aterrorizante quanto o primeiro de nossas vidas. É uma coisa lógica que a primeira vez que algo deste tipo aconteça seja também a pior, já que não sabemos pelo que diabos estamos passando. Mas eventualmente o coração desacelera, a respiração volta ao normal, as mãos param de tremer e os olhos voltam a ver normalmente. O susto passa. E a gente esquece.

O mesmo vale para as dores do amor. A primeira vez que a sentimos é devastador. O coração dói tanto que parece estar tentando se rasgar em mil pedaços e tentar se manter em pé e inteira toma tanta energia que por um tempo tudo o que queremos é ficar deitada, escondida do mundo. Somos animal ferido, gato machucado que, quando tem uma ferida, procura esconderijo para lambê-la.

Como acontece quando levamos um susto, o cérebro vai à exaustão tentando compreender o que aconteceu, tentando entender porque, neste caso, um mais um não é igual a dois. E sim, isso é clichê, mas
convenhamos, também o é qualquer fim de amor. E sem entender e já cansada, dói também a cabeça.

A parte mais óbvia e visível de um rompimento são os olhos. O velho ditado "os olhos são a janela da alma" tem mais sentido nessa época da vida, mas eu ouso modificá-lo um pouco. Diria que os olhos são o espelho da alma. Se você está triste, chora. E se chora, irrita os olhos e tranca o nariz. Inchamos a cara e, sem conseguir respirar direito, o coração vai à loucura para tentar fazer com que o pouco oxigênio inspirado seja o suficiente para o corpo... e começa tudo de novo. Dói o coração, dói a cabeça, dói os olhos, e tranca o nariz. Talvez por isso tenhamos a sensação de quase não conseguir respirar sem o amado ao lado.

Mas, eventualmente, isso também passa. A primeira vez que eu senti tudo isso, liguei desesperada para o meu irmão. Não foi a mãe ou a irmã, mulheres que teriam empatia e talvez compartilhassem da minha dor... Foi o irmão, porque eu sabia que precisava de um choque de realidade. E foi o que aconteceu.

— Ah, mana... Eu entendo a tua dor, já a senti também. E embora eu não goste de te ver é assim, não há o que fazer. Uma vez, quando você era pequena, me viu saltando de bicicleta do alto de uma rampa. Você estava de patins e tentou fazer o mesmo. É óbvio que você caiu. E foi feio: ralou os dois joelhos e deixou sangue na pista. Eu fiquei assustado, te levei pra casa no colo e, quando eu cheguei lá, a mãe passou "metiolate" pra limpar. Você gritava... Eu sabia que doía muito mais agora, mas era necessário limpar o ferimento.
Você ia continuar andando, embora com dor por algum tempo, e levando a vida normalmente. Até que um dia o machucado viraria cicatriz pra te lembrar que saltar de uma rampa sem saber o que está fazendo é burrice. E é a mesma coisa agora: eu sei que dói. Mas não mata.

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