sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Afterlife

Leia ouvindo


Como todos os dias de manhã, levantou. Tomou banho, comeu alguma coisa e pegou o ônibus para o trabalho.
Nunca pegou o mais rápido, porque ele vai por atalhos. O mais longo é mais bonito, tem a vantagem de se ver o mar durante todo o trajeto e, em geral, é nessa hora que ela pensa que vale a pena levantar.


... Até que um dia deu por si já em frente ao trabalho. Abriu a porta, sorriu para o porteiro e chamou o elevador... Quando foi que deixou de usar as escadas?

Ao fim do dia, recebeu a ligação do namorado, trocou duas palavras e desligou dizendo 'eu te amo'. Só ao guardar o telefone na bolsa é que percebeu o quão automática foi a sua resposta.

No meio do caminho para o ponto de ônibus, parou. Olhou para dentro da academia e viu uma jovem suando, correndo. Há quanto tempo ela não corria? Não lutava, ou nadava? Há quantos dias passava pelo mar desapercebida, para quantas pessoas deixou de dizer olá?

No ponto da beira-mar, deixou sua condução passar. Atravessou a rua e pegou um táxi para a direção oposta. Tirou o salto para pisar na areia e, mesmo de terninho, foi molhar os pés nas águas geladas do sul da ilha.

Ligou para o namorado e ouviu as mesmas três palavras de antes. Terminou.

Mergulhou de roupa e, ao sair da praia, parou em um bar para comprar uma cerveja.
Sentiu-se viva.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Petição

"Eu, Úrsula, sou aluna da Universidade do Estado de Santa Catarina no curso de Pedagogia. Estou na sétima fase, falta um semestre para eu me formar. Recentemente comecei uma relação amorosa com um professor da Universidade, estávamos em uma relação de namoro. Ele tinha me apresentado à mãe, ao pai, saíamos juntos, dormíamos juntos. Na noite de quinta-feira (15/11), entre 18h e 22h da noite, no apartamento dele, fui agredida. Levei um soco no olho esquerdo sem motivo. Fiquei com muito medo e receio de denunciar, pela situação de poder instalada na relação. Ele está no cargo de chefia do Departamento de Ciências Humanas da FAED, faz parte do Comitê de Ética, enfim, não tinha como não ficar com medo. No sábado de manhã, fiz o boletim de ocorrência, depois de assumir que precisava fazer algo com a violência que tinha sofrido. 
Porque se eu, formada em Jornalismo e estudante de Pedagogia, não fizesse algo sobre isso, sentiria a impotência comigo mesma. Fui registrar o BO de agressão na 6ª DP da Agronômica. Quando cheguei na Delegacia da mulher, criança e adolescente, fui recebida por um agente, que em resposta a pergunta de uma amiga se podia me acompanhar, falou que eu deveria aprender a me defender sozinha. "Ela precisa aprender a se defender sozinha". A frase dele foi chocante em um primeiro momento, mas não me senti acuada, muito pelo contrário. Comprovei que mulheres fragilizadas são muito maltratadas pelo sistema e por isso, sentem-se intimidadas e relutam em seguir com a denúncia. 
Como o crime aconteceu no município de Palhoça, para adiantar o caso, fiz o registro do BO na Delegacia de lá, que inclusive ficava ao lado da casa do agressor. Precisei contrargumentar com um policial que recém tinha sido transferido para o setor e não apresentava conhecimento da Lei Maria da Penha. Tudo isso me deixou mais desconfortável. A questão é que o fato da agressão não diz respeito só a mim, mas a todas as mulheres que são constrangidas cotidianamente. Não recebem o tratamento adequado por parte do serviço público, são submetidas a demora dos processos e nunca se tornam demanda de nada, inclusive na semana de ativismo contra a violência a mulher. 
Se essa experiência puder ser ampliada para que possamos levar algo dela conosco, sinto que não a vivi a troco de nada. Então, o roxo em meu rosto será reinventado e muitas ações em pessoas boas terá despertado. A violência só tem cara a partir do momento em que escancaramos sem anseios de seguir em frente. Ser mulher em uma sociedade patriarcal e machista, que trata a diversidade como doença mental não é uma tarefa fácil. Mas as mudanças só acontecem quando estamos dispostas. A minha disposição é grande e constante.Perene. Nesse momento, preciso de apoio. É o pedido mais franco e desarmado que faço a todas e a todos. Outras pessoas calaram diante de casos parecidos. Falar (e escrever) é o que sei fazer. Faço disso frente de uma luta. 


Atenciosamente, 

Úrsula."

Eu não a conheço muito bem, infelizmente. Mas  a proximidade, querendo ou não, aumenta a raiva que a gente sente quando isso acontece. 
Agressão não é normal, nem aceitável. Não importa com quem, não importa onde.
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domingo, 18 de novembro de 2012

5 razões para continuar a nadar


  1. Falta de outras alternativas. O que mais você sabe fazer além de nadar?
  2. Pequenas coisas que ainda quer conquistar: uma bolsa nova, um sofá novo, um emprego novo.
  3. Possibilidade de conhecer outros peixes... porque é difícil não enjoar dos antigos.
  4. Limpeza. Sentimental, física ou virtual, limpezas podem realmente fazer a diferença.
  5. Se você nadar por tempo o suficiente, logo as suas dúvidas/agonias vão ter que ficar pra trás.

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