terça-feira, 25 de setembro de 2012

Amor descartável

Para ler ouvindo Fernando Anitelli

Estou a procura de um amor para vida inteira - que não dure, entretanto, mais que uma noite. De uma pessoa capaz de ser poeta e incrivelmente atleta, com cérebro e coxas bem trabalhadas. De um amor que goste de cachorros, que saiba fazer cafuné pós-sexo, mas que segure o meu cabelo firme, enquanto o sexo durar...

A procura de um amor que saiba dançar, que toque violão e que cante naquele tom calmo e grave de todo homem... Um amor que tenha barba, tatuagem e senso de humor; que leia e concorde com meu gosto musical. Um amor que prometa lealdade além de fidelidade; que fale manso e que jure, nessa fala, cuidar de mim enquanto der.

Um amor verdadeiro, mas nem por isso menos descartável. Um amor que não me complete, nem me cause dependência; que seja tão platônico, quanto real e que, por fim, vá embora.
...Nada me fará apreciar tanto um amor desses, quanto a sua ausência.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Uma história em 20 minutos

 Eu estava no ônibus, em hora de fim de expediente, lotado. No caminho para casa, 20 minutos se passariam. Vinte minutos sobre os quais eu não teria o menor controle. Entre uma tentativa e outra de não esbarrar em alguém e de manter o equilíbrio, ouvi o relato:
...
- É, eu tive que sair de casa. - disse o garoto, meio encabulado - Estou ficando, por hora, na casa de uma amiga.
Enquanto falava, olhava e acariciava os braços, ainda meio roxos.
- Ela (?) não te contou a história toda? Pois é, então... Eu saí mais cedo do trabalho, um dia, e o encontrei com outro na nossa casa. Na nossa casa - repetia, desolado. Fiquei puto, né? Mandei o cara embora e a gente discutiu feio. Ele não chegou a me bater, mas me segurava com tanta força... não sabia que ele era capaz de me tratar daquele jeito. 
- Aí você saiu de casa?
- Não. Insisti mais um pouco, mais um tempo. Mas passei a sentir ciúmes e a gente começou a brigar com mais frequência. Aí sim ele me bateu. Um soco no olho, uns empurrões - e ergueu os óculos escuros, como que para mostrar alguma coisa.
- E agora? Vais ficar na casa da tua amiga até quando?
- Até quando precisar, até quando achar um apê para mim. 

E a conversa seguiu, sobre imobiliárias e preços de aluguéis, até o meu ponto final.

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